Na prática ambiental e urbanística dos Países Baixos, as licenças, isenções e decisões de derogação constituem a pedra angular do desenvolvimento territorial equilibrado e sustentável. Através da Lei Geral de Disposições Ambientais (Wabo), a Lei de Gestão Ambiental e várias regulamentações independentes (como a Lei de Proteção da Natureza e a Lei da Água), são estabelecidos critérios rigorosos para emissões, integração espacial e compensação ecológica. As licenças regulam o principal, as isenções oferecem espaço temporário ou sob condições especiais para exceções, e as derogações (por exemplo, sob a Diretiva de Habitats) permitem exceções em caso de interesses sociais ou econômicos significativos. No entanto, quando as autoridades, desde os municípios e províncias até a Rijkswaterstaat e seus responsáveis, são acusadas de má gestão financeira, fraude, corrupção, lavagem de dinheiro ou violação de sanções internacionais, todo o sistema está em risco. Não apenas os processos de emissão e modificação de licenças são abruptamente interrompidos, mas a confiança de empresas, investidores e partes sociais entra em colapso, com consequências graves para a realização de projetos de energia sustentável, construção de moradias e programas de recuperação ambiental.
Má gestão financeira
A má gestão financeira se manifesta quando os órgãos responsáveis pela emissão de licenças não gerenciam adequadamente o orçamento para verificação e fiscalização das normas. A falta de recursos para implementar os processos de licenciamento leva a atrasos na avaliação de estudos de impacto ambiental (EIA) complexos e das decisões chamadas “SVOB” (regulamento de subsídios para investigações de solos). Municípios que cortam sistematicamente seus quadros técnicos e legais podem deixar pedidos de licenciamento pendentes por anos ou se verem forçados a contratar consultores externos caros, o que afeta negativamente a continuidade e a preservação do conhecimento. Promotores de projetos e operadores de redes enfrentam custos imprevistos e políticas de crédito mais rígidas dos bancos, que não querem correr o risco de estouro orçamentário. Como resultado, não apenas grandes projetos solares ou eólicos são retardados, mas também projetos de proteção contra inundações podem ser adiados, aumentando o risco de enchentes.
Fraude
A fraude na emissão de licenças e procedimentos de isenção ocorre quando dados cruciais são falsificados ou ocultados intencionalmente. Pode-se pensar em relatórios de emissões incorretos para permanecer abaixo dos limites das regulamentações de nitrato ou PFAS, ou a exclusão de informações ecológicas sensíveis de anexos de estudos de impacto ambiental. Uma consultoria que manipula dados de medição em colaboração com um funcionário público mina a proteção legal das partes interessadas. Quando tais irregularidades, muitas vezes descobertas por meio de solicitações de acesso a documentos ou denúncias, vêm à tona, as licenças e isenções emitidas são imediatamente suspensas. Isso dá origem a uma avalanche de apelações, reavaliação de processos e um esgotamento adicional da capacidade limitada dos municípios e províncias, fazendo com que novas solicitações fiquem paradas por meses ou até anos.
Suborno
O suborno ocorre quando funcionários ou especialistas externos aceitam propinas em troca da autorização de exceções ou flexibilização das condições de licenciamento. Isso pode ocorrer através de “honorários de consultoria” disfarçados, que na realidade servem como suborno para isenções de limites de ruído em projetos de infraestrutura ou para flexibilização das zonas de construção ao longo de áreas Natura 2000. Quando é feita uma denúncia de suborno, o tribunal administrativo anula todo o procedimento de emissão de licenças ou isenções, investigações criminais são iniciadas e todas as decisões em andamento ou futuras são congeladas no município em questão. Investidores nacionais e internacionais cancelam planos arriscados, o que leva a um impasse na transição energética e nos planos de construção.
Lavagem de dinheiro
A lavagem de dinheiro ocorre quando capital ilícito é investido em projetos que requerem isenções ou derogações, por exemplo, através de empresas de fachada que colocam empresas altamente poluentes em áreas de desenvolvimento “limpo”. Municípios que não estão atentos a fluxos financeiros incomuns – e que não acionam a FIOD ou a FIU-NL de maneira oportuna – podem, inadvertidamente, ajudar a limpar receitas ilegais. Quando as autoridades de supervisão financeira detectam transações suspeitas, os procedimentos de licenciamento e isenção são interrompidos imediatamente e as contas bancárias são congeladas. As consequências são graves: os preparativos para os terrenos param, contratos com empreiteiros são cancelados e as economias locais (como os clusters agrícolas de estufas) ficam presas em um caos jurídico e financeiro.
Corrupção
A corrupção no contexto das licenças e isenções refere-se a um sistema em que favores mútuos entre tomadores de decisão política e partes do mercado se tornam a norma. Isso pode levar a procedimentos estruturalmente favorecidos, nos quais certos desenvolvedores recebem constantemente isenções para construir em zonas costeiras protegidas ou em estruturas ecológicas-chave, sem uma avaliação transparente. Tal padrão mina os princípios de eficiência, eficácia e integridade no direito ambiental. Após investigações parlamentares e administrativas, frequentemente há uma intervenção do ministro ou da província, com a suspensão das decisões em andamento, que só poderão ser retomadas após uma nova avaliação independente. Os atrasos resultantes pesam sobre a agenda nacional de investimentos e prejudicam a imagem dos Países Baixos como um país confiável e transparente para investimentos.
Violação de sanções internacionais
Em colaborações internacionais, as licenças e as isenções podem entrar em conflito com as políticas de sanções. Por exemplo, em oleodutos transnacionais ou no transporte transfronteiriço de resíduos que necessitam de isenções à regulamentação europeia sobre áreas Natura 2000. Facilitar o envolvimento de entidades sancionadas nesses projetos leva à revogação imediata de subsídios europeus, multas do Ministério das Finanças e à suspensão de todo o processo de tomada de decisões por autoridades nacionais e da UE. Isso não só coloca em risco os projetos individuais, mas também prejudica a reputação dos Países Baixos como parceiro confiável em colaborações internacionais em questões ambientais e de infraestrutura e pode gerar reivindicações multilaterais por investidores estrangeiros.